CRÍTICA - Quarteto Fantástico: Primeiros Passos

Com quantos reboots se faz uma família?

24/07/2025, 18:05 / Por: Por: Lucas Mendes
CRÍTICA - Quarteto Fantástico: Primeiros Passos

Fazem décadas que tentam adaptar a primeira família da Marvel com a pompa que ela de fato merece. Sejam em animações que muito charmosamente parecem gifs travadíssimos, ou até mesmo um filme gravado para nunca ser exibido, ou em produções que exalam o pior e o melhor dos anos 2000 e até mesmo o cinismo latente dos anos 2010, a cada década o quarteto fantástico volta para tentar encantar quem assiste e dessa vez o papo é que agora, é pra valer.

Bom, mais ou menos, né.


Começando pelo lado positivo: o elenco e todo o design de produção. Esteticamente, este deve ser o filme mais bonito da Marvel Studios em muito tempo. Me peguei pensando em como essa seria uma oportunidade perfeita para recomeçar tudo dentro desse retrofuturismo super carismático, em vez de colocar o Quarteto para enfrentar Robert Downey Jr. (que dará vida ao vilão Doutor Destino) em dezembro de 2026. Os efeitos especiais também estão melhores do que eu imaginava, e toda a sequência da primeira aparição de Galactus com a fuga da fortaleza por meio de buracos negros e a estilosíssima Surfista Prateada de Julia Garner na cola deles, está muito boa.

É surpreendente o quanto os Richards de fato parecem uma família. Embora estejam bem mais higienizados e sem as farpas que os tornavam tão relacionáveis, ainda preservam uma honestidade que torna suas presenças em cena bastante agradáveis. Me surpreendeu bastante a entrega de Joseph Quinn, e, definitivamente, Vanessa Kirby rouba a cena, mesmo com sua Sue Storm um pouco reduzida demais ao papel de mãe.


O grande problema desse filme é que o diretor Matt Shakman ainda não é, de fato, um diretor completo. Por um lado, o texto lança questões que abrem debates éticos e conceitos de ficção científica bastante fascinantes. No entanto, todas as resoluções começam a se tornar apressadas a partir do momento em que o bebê se transforma em um macguffin para a narrativa. A cena do parto no espaço, por exemplo, é belíssima e chega a arrancar uma lágrima, mas o modo como a criança é utilizada como ponto de ruptura é superficial, raso demais, comprometendo até mesmo a boa construção de mundo que vinha se desenvolvendo até então.

Essa falta de apreço visual pesa especialmente no clímax, que deveria ser o grande momento memorável, construído e prometido desde o início, mas acaba parecendo mais uma conclusão arrastada de ano letivo. Gosto da proposta de transformar o filme em um filme de Kaiju aos quarenta e cinco do segundo tempo, mas Shakman perde completamente a noção de escala. Mesmo com o ótimo trabalho do elenco, que sustenta as irregularidades, a solução encontrada para o problema principal é muito sem graça. Além disso, embora eu adore o fato de o filme ser autocontido, é curioso que, mesmo com tantas inspirações em diferentes eras dos quadrinhos, a principal referência pareça ser Os Incríveis, do Brad Bird.


No fim das contas, este ainda é um ajuste de rota rumo a um padrão de qualidade mais aceitável dentro desse grande ouroboros insuportável em que se transformou o Partido Republicano das produções de super-heróis. Já é a segunda vez, só neste ano, que conseguem fazer um filme de verdade. Será que isso vai se manter no futuro?

Sinceramente, se depender da porquíssima cena pós-créditos dirigida pelos irmãos Russo... provavelmente não.


Nota: ★★★☆☆ (3/5)


Lucas Mendes

Amante da sétima arte e outras artes também.

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